Gaúcho de Estância Velha, Leandro Klauck mexe com carros desde os 14 anos de idade e era mecânico no Brasil. Em 2016, chegou à Austrália como intercambista e logo procurou emprego na área que sempre atuou e gosta. E descobriu que há muitas oportunidades como mecânico de automóveis no país.
“Quando fiz dois anos de Austrália, decidimos por ficar aqui. Consultamos com agentes de imigração e ficamos confiantes. Fomos pensando que minha esposa que iria aplicar a residência justamente por ter formação superior, e eu tenho formação técnica. A partir daí a gente começou a conversar com agente, e ele disse ‘não, o caminho é por ti, Leandro, pela mecânica, que vai ser muito mais fácil, com menos dor de cabeça, e tem mais oportunidade’. Foi o que aconteceu, começamos fazendo o meu reconhecimento, aí a gente aplicou a residência ‘sponsorada’. Claro que foi um pouquinho estressante, não tem caminho fácil, e não tem atalho. Vai ter que fazer o processo como manda o figurino, bonitinho, do começou ao fim, pra fazer dar certo.”Felipe Leite tem uma história que termina da mesma forma. Mecânico no Rio de Janeiro com mulher e três filhos, passou a se preocupar com a violência crescente no Brasil e resolveu tentar a sorte em outro país. Este país foi a Austrália.
Depois de dois anos de Austrália, Leandro Klauck tentou e conseguiu ser residente permanente a partir da profissão de mecânico. Source: Supplied
“Eu já era mecânico no Brasil, tive oficina no Rio de Janeiro por uns 10 anos. Há uns 15 anos eu comecei a perceber que a situação no Brasil não tava muito bem, principalmente na questão da segurança. Como tínhamos três filhos adolescentes, decidimos que a melhor oportunidade seria sair do Brasil. Começamos a olhar opções, a Austrália de cara se mostrou a mais interessante, e a gente fez o processo, esperou o visto e foi assim que começou.”
Felipe Leite se surpreende com a facilidade com a qual conseguiu emprego em Adelaide, assim que chegou.
“Eu cheguei há 11 anos e vim direto para Adelaide, porque meu visto era regional. A questão do emprego foi bem tranquila. Antes de sair do Brasil eu já fui pra Internet e comecei a olhar algumas oficinas, e teve uma em particular que já me interessou. Quando eu cheguei aqui, fui fazer uma entrevista com o dono da empresa e ele me contratou imediatamente. Então foi uma coisa super tranquila.”
Profissão em alta demanda
A profissão de mecânico está em alta demanda na Austrália por conta da falta de profissionais qualificados. A agente de imigração Érica Carneiro explica o leque de oportunidades.
“‘Motor mechanic’ é uma profissão que está na lista de alta demanda aqui na Austrália, a MLTSSL (Medium and Long-term Strategic Skills List). Isso quer dizer que figura em uma série de vistos que podem ser pedidos, o permanente independente, um visto permanente com o patrocínio de um estado, um visto de sponsor que depois leva ‘a residência permanente, um visto temporário regional por nomeação do estado, e um visto regional por sponsor de um empregador em área regional.”
“Nada é fácil quando se fala em imigração, existem sempre processos documentais complicados e complexos que levam tempo, mas o primeiro passo é, quem já quer vir com visto que não seja de estudante, o primeiro passo é ter uma profissão em demanda.”
Oferta de equipamentos é melhor na Austrália
De acordo com Leandro Klauck, ser mecânico no Brasil e na Austrália não tem tanta diferença, mas o aparato técnico disponível em um país desenvolvido facilita o trabalho.
“O princípio da mecânica, claro, é o mesmo. Mas muda por você trabalhar com carros mais luxuosos, essas coisas. Mas a grande diferença é que você tem muito mais acesso à informação e ferramental, como parede de diagnósticos. Aqui são muito melhores que no Brasil. Mas muito melhores mesmo, suas condições de trabalho são bem melhores que no Brasil. E tu tens mais acesso à informação."
Felipe Leite também lembra que a ferramentaria é melhor, e os preços ainda são mais em conta.
“Os carros são muito parecidos. Aqui a única diferença que aqui é melhor é o acesso a equipamentos e ferramentas. Aqui você consegue muito mais ferramentas de boa qualidade e o preço é muito mais em conta.”
Dicas para quem quer se tornar um residente permanente na Austrália através da mecânica
Felipe Leite cita sua experiência de já ter vindo como residente permanente como uma dica a quem tem o sonho de viver na Austrália através deste ofício.
“Para um mecânico no Brasil que está pensando em vir pra Austrália, o que eu recomendaria é: invista bastante no inglês, faz toda a diferença. E se você tiver a oportunidade, aplique para um visto permanente. O visto permanente, além de ele te dar benefício do governo, ele facilita pra conseguir emprego. Tem muito lugar que não dá emprego se não tiver o visto. E outra, se você é estudante, você só consegue trabalhar 20 horas por semana, o que é pouco para pagar o custo de vida aqui na Austrália.”
Entretanto, a agente Erica Carneiro lembra que a pandemia do coronavírus tornou as coisas mais difíceis para esta estratégia.
“Contudo, com o contexto social, econômico e político de momento, vir como residente permanente está cada dia mais difícil. Então a gente vê cada vez mais pessoas entrando com visto de estudante, iniciando o processo aqui dentro, utilizando empregadores e áreas regionais para facilitar. Para fins de imigração, área regional é o país inteiro com exceção de Sydney, Brisbane e Melbourne. É necessário ser reconhecido aqui nessa profissão por um órgão chamado Trade Recognition Australia e é uma papelada muito grande, não é todo mundo que é reconhecido, por mais que a pessoa seja mecânica no Brasil.“
“Costumo dizer também que o departamento de imigração é um planeta separado do mundo real. No mundo real, existe uma alta demanda de trabalho disponível no mercado, bastante vagas. Não é uma profissão que os australianos estejam se qualificando e acumulando experiência para ficarem bons o suficiente.”
A quem já está como estudante na Austrália e pretende ser mecânico e ficar em definitivo, Leandro Klauck sugere evitar o comodismo.
“Todo mundo tem um tempo, mas você tem que parar de dar desculpas para dar o próximo passo. É não procrastinar. Uma coisa que acontece é que a gente fica acomodado, ‘ah eu trabalho na construção, ganho bem’. Ganhar bem nem sempre vai te dar o visto. Dinheiro não pode ser em primeiro lugar, vai ser a consequência do teu trabalho, do teu esforço depois. Aqui eu vejo muito isso, a galera põe o dinheiro em primeiro lugar. O dinheiro é a consequência depois de atingir os seus objetivos. Pare de dizer que você não tem inglês o suficiente, ou as licenças, tem que dar o próximo passo, tem que correr atrás. Ninguém vai fazer isso por você, te oferecer um ‘sponsor’ de mão beijada. Vai ter que buscar, correr atrás, batalhar bastante. E vai conseguir. “
A consultora de carreira Carol Ferraz lembra do caráter mais informal da profissão de mecânico. A dica é entrar em contato diretamente com as pessoas da área.
“É uma área que tem sim muita demanda, mas ela não vai ser ‘formal’. Quando digo ‘formal’, se você estiver em uma área (de trabalho) mais empresarial, onde você está falando de uma posição com (departamento de) recursos humanos, você vai encontrar essas vagas em sites como Seek e Linkedin, etc. Todas as vagas que são relacionadas a essa área, as vagas não necessariamente vão estar nestes veículos. A própria oficina acaba não tendo muito acesso a websites ou coisas nesse sentido. É super importante a pessoa que está buscando emprego nessa área ficar ligada não só em sites, mas fortalecer o seu 'networking'. A chave para qualquer pessoa que está aqui na Austrália nessa área, como em qualquer área, é o fortalecimento do 'networking'. Precisa conhecer pessoas nessa área. De acordo com uma pesquisa que nós fizemos com nossos clientes, 89% das pessoas que encontram vagas, que conseguem se recolocar, é via 'networking'. Isso é uma das coisas que, no meu trabalho, no dia a dia, os brasileiros ainda têm muito receio. (...) Quem está no Brasil já pode começar a fazer isso de lá.”