Pichardo é o mais novo de quatro irmãos; a irmã Roselena treinava com o pai e levava Pedro para os treinos.
Chegou a saltar descalço — explica que "não tinha ténis, nem roupa. Se não tínhamos comida em casa, como teríamos dinheiro para ténis?". Apesar de todas as dificuldades — quando em Havana, ele e o pai, dormiam nas bancadas do Estádio Panamericano —, já sonhava com o número mágico, os 18 metros, e ambicionava ser um dos melhores do mundo no triplo salto.
Em 2014 entrou em rota de colisão com a Federação Cubana de Atletismo. Queria abandonar o técnico Ricardo Ponce e voltar a ser treinado pelo pai, mas acabou suspenso por seis meses. Sucederam-se problemas com as autoridades do desporto no regime cubano.
Desertou em abril de 2017 durante um estágio da seleção cubana em Estugarda, na Alemanha, no âmbito da preparação para os Mundiais de atletismo de Londres. Uma decisão tomada em família, apoiada pelo pai, que já estava na Europa.
Escolheu viver em Portugal, com a família, adquiriu a nacionalidade portuguesa.
Treina no Benfica e, agora, em Tóquio, saltou para o ouro olímpico. Saltou 17 metros e 98 centímetros.
Para termos uma ideia da distância, há que encontrar um ponto de partida, dar dezoito a vinte passos em frente e depois olhe para trás - é qualquer coisa assim. É o salto de Pedro Pablo Pichardo para o ouro olímpico em Tóquio: 17 metros e 98.
O saltador luso-cubano dominou a final olímpica do triplo salto nesta quinta-feira, nunca cedendo a primeira posição do concurso - qualquer um dos seus saltos válidos teria dado para conquistar o ouro, com o melhor a chegar ao terceiro ensaio, os tais 17,98m, marca notável embora a 31 centímetros do record do mundo fixado há já 26 anos por Jonathan Edwards.
Em Tóquio, Pichardo abriu o concurso logo com 17.61 metros, tomando a dianteira da final. No segundo salto fez exatamente a mesma marca, antes de saltar para o recorde nacional com os 17.98 do triunfo. No quarto ensaio fez nulo, abdicou do quinto e no sexto, já com o ouro garantido, tentou o recorde olímpico e mundial mas não conseguiu.
Diz que esse é o objetivo dele.
Pichardo deu este ouro a Portugal precisamente 13 anos depois de o mesmo ter sido conseguido em Pequim 2008 pelo português Nelson Évora. A especialidade está a ser de eleição em Portugal. Também nesta semana Patrícia Mamona conquistou a prata do triplo salto feminino.