O complexo equilíbrio entre saúde e economia

Antonio Guterres

UN Secretary General Antonio Guterres has called on governments to protect women during coronavirus lockdowns Source: Archive Photos

A fúria do coronavírus confronta-nos com a loucura da guerra. É assim que o secretário-geral da ONU apelou a um cessar fogo global


Agora o mundo de todos nós enfrenta um inimigo comum – o Covid-19. A fúria deste vírus confronta-nos com a loucura da guerra. É assim que apelo a um cessar fogo global.

Foi com palavras que traduzem este apelo que António Guterres, como secretário geral da ONU, se dirigiu, vai para um mês, 23 de março, ao mundo em conflito.

Na semana passada, na exortação da Páscoa, o papa juntou-se a Guterres, com o apelo de tempos antigos, para a trégua pascal continuada plo tempo de emergência com o vírus. Que este não seja o tempo de divisões, egoísmos e indiferenças – mas da solidariedade. Que não seja o tempo do esquecimento dos que sofrem com as guerras. O Papa Bergoglio citou a guerra na Siria, no Iemene, os conflitos no Iraque, no Líbano, entre Israel e a Palestina, lembrou povos em sofrimento, do Cabo Delgado em Moçambique à Libia e à Venezuela, passando pela fronteira greco-turca, em particular os refugiados na ilha de Lesbos. Sejam capazes de sair das trevas da humanidade, apelou o papa, corroborando Guterres.
Falando com toda a franqueza: quem apostaria um euro nalgum tipo de bom acolhimento destes apelos por parte dos guerreiros?

A verdade é que se sucedem adesões. No centro de África, Ousmane Dicko, um emir que é um dos mais influentes chefes tribais na região a cavalo entre o Tchad, o Mali e o Níger, chegou-se à frente a aderir e a reclamar o respeito pela trégua.

Na Ucrânia, exército e separatistas, embora mantenham escaramuças, também falam de adesão à ideia de trégua.

No Iemene, o mais pobre dos países da peninsula arábica e a coligação encabeçada pla Arabia Saudita, desta vez, responderam sim ao apelo de cessar-fogo que ficou definido há 2 anos, nos entretanto sucessivamente desrespeitados acordos de Estocolmo.

É facto que subsiste o problema de a liderança dos Huthi, que representam o território onde vivem 70% dos 28 milhões de iemenitas, condicionarem o cessar fogo a obterem compensações económicas para a reconstrução do país devastado pela fome e cólera que têm crescido com a guerra. Mas há alguma via para o apaziguamento, e o Irão, em grande sofrimento com o vírus, pode ser decisivo a influenciar os huthis mais inflamados.

Na Síria, outra guerra interminável, vai com 9 anos, os combates baixaram de intensidade neste último mês, sobretudo em volta de Idlib, o último bastião que escapa a Bachar el Assad. Ao mesmo tempo, no nordeste sírio, os curdos declaram cessar-fogo unilateral.

Até na Colômbia, o Exército de Libertação Nacional, última guerrilha ativa no país, oferece cessar-fogo a troco de ajuda à zona que controla.

Tudo é frágil, mas o apelo do secretário-geral da ONU e o do Papa está, para surpresa de tantos de nós, a ser acolhido.

O apelo até pode ter dimensão modesta, face às necessidades de países tão devastados e pressionados por dívidas com juros insuportáveis.

Países e povos que, perante o pesadelo do vírus, mal têm meia duzia de ventiladores utilizáveis. O sudão do Sul tem 4, a República Centro-Africana tem 3, a Venezuela tem apenas 84 camas de cuidados intensivos.

É facto que o G20 já ousou um pequeno passo ao prometer a moratória que abre caminho para a renegociação de dívidas.

É facto que na ONU o conselho de segurança ainda não conseguiu compromisso para uma resposta global ao que Trump insiste em chamar de vírus chinês – e assim provocar o veto chinês.

É facto que Trump é o tal que fez atrasar o envio dos prometidos cheques de 1200 dólares para cada americano com baixos rendimentos porque os cheques não tinham inscrito o nome dele – Donald John Trump. Não sabemos se também exige que o nome vá em letras douradas como nos hotéis e nas torres dele. Há prendas que não são grátis, sobretudo em ano eleitoral.

Mas há sinais de, perante a maior calamidade global desde a Grande Guerra 39/45, resposta positiva ao cessar fogo – pedido pelo Papa e pela ONU.

As pessoas na Austrália devem ficar pelo menos a um metro e meio de distância dos outros e encontros estão limitados a duas pessoas, a não ser que esteja com a sua família ou em casa.

Se você acredita que pode ter contraído o vírus, ligue para o seu médico, não o visite, ou ligue para a Linha Direta Nacional do Coronavírus no número 1800 020 080.

Se você estiver com dificuldades para respirar ou sofrer uma emergência médica, ligue para 000.

A SBS traz as últimas informações sobre o coronavírus para as diversas comunidades na Austrália.

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