Aussie que passou a noite no Complexo do Alemão cria fundo para as crianças da favela

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Hugo Stanley-Cary, 34, que ficou famoso nas redes sociais por passar a noite em uma das favelas mais perigosas do Rio de Janeiro diz que quer usar sua notoriedade para ajudar as crianças do Complexo do Alemão.


Hugo Cary, de Scarborough, Western Australia, encontrou fama inesperada depois de se aventurar por uma das favelas mais notórias do Rio, o Complexo do Alemão.

Ciente de que ele pode ter sido um pouco "estúpido", ele usou sua nova fama para criar um fundo para as crianças que conheceu na favela. No primeiro dia, levantou AU$2 mil e tem como objetivo alcançar os AU$10 mil para ajudar na educação das crianças.

Hugo Cary disse que sua motivação para ir a uma favela era ir a um lugar onde não há muitos turistas.

“Eu sei que existem passeios organizados para algumas favelas, tours que levam as pessoas para observarem os moradores e seu dia-a-dia na favela, como um safari de animais, não me sinto bem com isso. Eu queria fazer um passeio autêntico e perigoso também, eu meio que gosto disso às vezes. ”

Military mission in Rio de Janeiro
Hugo Cary: “I don’t have a precise answer to give you about why I went to 'Complexo do Alemao'. While I was in Rio and knew about the favelas from people I met and things I heard about favelas for being obviously dangerous places but also for being some of the most authentic places in Brazil, full of life, full of community, full of atmosphere.” Source: Getty


Falando à SBS Português de um barco 'no meio do nada cercado por ilhas na Indonésia', Hugo contou como foi parar no Complexo do Alemão. 

Ele primeiro redigiu uma carta e pediu ajuda para traduzi-la para o português. “Recebi a ajuda de uma moça, de uma lanchonete de fast food, que traduziu minha carta para o português, onde eu dizia quais eram minhas intenções. A carta lia: “Olá, meu nome é Hugo. Eu venho em paz, não trago nada além de amor.”

Ele recorda que não levou muito dinheiro com ele. “Eu apenas fui lá com essa carta para ver se eu poderia ficar lá e fazer parte da comunidade por um tempo.'

Com a carta na mão, Hugo pegou o táxi às 3h30 da manhã. "Provavelmente não era a melhor hora para ir lá. Mas foi o que senti vontade de fazer naquele momento em particular.”
Hugo Cary
“Probably wasn’t the smartest time to go. But it was what I felt like doing it at that particular time." Source: Instagram

“Cheguei por volta das 4, 5 da manhã vi pessoas indo trabalhar, alguns olharam para mim com curiosidade, mas ninguém disse nada. Entrei, rapidamente fui abordado por dois caras armados com metralhadoras. Eles ficaram surpresos, mas se aproximaram de mim, perguntaram o que eu estava fazendo e me deram tempo para explicar quais eram minhas intenções. ”

Foi quando Hugo percebeu que havia esquecido sua carta no táxi e precisou usar o telefone para traduzir no Google a primeira reunião com os dois jovens, que 'eram quase adolescentes'.

"Não me senti ameaçado por eles nem nada. O mais difícil foi convencê-los de que eu não era um policial à paisana. Depois de uma hora batendo papo, eles me levaram à saída e disseram que 'eu estava livre para ir e que ali não era seguro'."

Ele então decidiu não sair da favela e voltou para dentro do Complexo, os homens se comunicaram via rádio e o deixaram ficar.

“Então eu entrei e subi a favela e passei o resto do dia saindo com eles, compartilhando histórias sobre suas vidas, sobre minha vida, tocando música. Tomei algumas cervejas com eles e saí no final da tarde. Obviamente, senão fosse pela barreira do idioma, onde estávamos, as condições em que viviam e as armas, éramos apenas brothers tomando uma cerveja juntos.”

Quando Hugo finalmente foi embora, escoltado novamente para uma saída segura, ele ainda parou para brincar com as crianças e mostrar-lhes truques com uma moeda.

Naquele momento, seu telefone ficou sem bateria. Mais uma vez foi ajudado pelos moradores que carregaram o telefone e o levaram para um táxi.

“Sim, sei que tive sorte porque não levei um tiro logo na hora que entrei."

Perguntado se pensou em suas ações, Hugo diz que "há uma linha tênue entre coragem e estupidez. Não saber os meandros me torna estúpido. Eu corri um risco. Mas eu não estava colocando ninguém em perigo, era apenas uma coisa minha. A mídia pegou a história e me pintou como um australiano bêbado fazendo um ato estúpido ... eles não entendem. ”

Ele disse que agora está usando a história e a fama inesperada para fazer algo de bom e criar . “Quero arrecadar dinheiro para as crianças desta favela, apenas para ajudar, com a educação delas. Arrecadei  $2000, mas principalmente de pessoas que conheço. ”
Hugo Cary
When he finally left in the afternoon, escorted again to a safe exit, he still stopped to play with the local children and show them magic tricks with a coin. Source: Supplied
“As crianças que encontrei são brilhantes, cheias de potencial. É realmente péssimo que elas não tenham as mesmas oportunidades que todos nós temos. Isso realmente partiu meu coração, elas são tão brilhantes.”

“Apesar do que está acontecendo com a política, a polícia, as drogas, essas são apenas crianças. Eles não têm escolha. Sei que não consigo resolver o problema, mas se puder ajudar um pouco algumas crianças a atingir o seu potencial, farei isso ”.

Complexo do Alemao
Children play on a small square in the lower part of the favela Complexo do Alemao. The Complexo is a big favela in Rio de Janeiro consisting of 25 settlements. Source: Getty
Se ele voltaria e faria tudo de novo? "Gostaria de voltar, mas muitos artigos na mídia disseram coisas que eu não disse e, se esses caras leem tudo isso, ficarão chateados comigo. Adoraria voltar, mas não quero voltar se as pessoas estiverem chateadas, não quero levar um tiro, não estou tentando morrer aqui.


 

 

 


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