O governo brasileiro sabia ao menos desde o dia 8 de janeiro sobre o colapso iminente no sistema de saúde de Manaus, apontam os dados do próprio governo.
A informação está em um ofício do Advogado-Geral da União, José Levi Mello Júnior, enviado ao Supremo Tribunal Federal no domingo, segundo reportagem da Folha de S. Paulo.
Na sexta-feira 15, o ministro do STF, Ricardo Lewandowski, deu um prazo de 48 horas para que o governo federal enviasse suprimentos de oxigênio ao Amazonas. O relatório faz parte deste pedido.
Segundo o ofício do Advogado-Geral da União, o secretariado do Ministério já tratou da possibilidade do colapso em reuniões entre os dias 3 e 4 de janeiro.
No dia 8, o Ministério da Saúde foi avisado, através de um email, pela empresa White Martins, que fornece oxigênio aos hospitais da região, de que o estoque de oxigênio local estava baixo.
Foi decidido então que o Ministério enviaria uma comitiva a Manaus, incluindo-se o ministro Eduardo Pazuello, para acompanhar a situação de perto.
O governo afirma que as entregas de oxigênio começaram no dia 12, com cilindros de oxigênio gasoso comprados da White Martins e enviados desde Guarulhos, segundo informações da Agência Pública. A FAB afirma ter enviado cilindros desde o dia 8 de janeiro.
No dia 14, o Ministério da Saúde enviou 120 mil unidades de hidroxicloroquina e 250 mil de oseltamivir, medicamentos sem eficácia comprovada contra COVID-19.
No dia 11, durante a visita a Manaus, Pazuello recomendou o tratamento precoce para diminuir os efeitos do coronavírus no Amazonas, segundo informações do jornal O Estado de Minas.
Disse ele: “Os diretores dos hospitais devem cobrar na ponta da linha da UBS como o médico está se portando. O cara tem que sair com um diagnóstico, até porque a medicação pode e deve começar antes dos exames complementares. Caso o teste depois der negativo por alguma razão, reduz a medicação e tá ótimo, não vai matar ninguém, agora salvará no caso da COVID-19”.
A Folha de S. Paulo divulgou que, em meio a crise do oxigênio, o governo federal financiou e montou uma força-tarefa de médicos para disseminar o chamado “tratamento precoce” da Covid-19 e visitarem Unidades Básicas de Saúde na capital amazonense.
Não há comprovação científica de que o chamado tratamento precoce funcione contra a COVID-19. A Organização Mundial da Saúde já declarou que não há indícios de que cloroquina, hidroxicloroquina e oseltamivir tenham algum resultado contra o coronavírus.
Na ocasião da aprovação das vacinas Coronavac e a da Oxford no domingo, membros da Anvisa, entidade do governo que aprova as vacinas, declararam que não existe tratamento precoce que funcione contra COVID-19.