Diplomata de carreira, Sérgio Moreira Lima serviu nas Nações Unidas em Nova York e nas Embaixadas em Washington, Lisboa e Londres. Ele foi embaixador em Telavive, Oslo e Budapeste até ser designado Embaixador da Austrália em novembro de 2018.
Nessa entrevista à SBS em Português, Sérgio Eduardo Moreira Lima fez um balanço sobre os dois anos e quatro meses na Austrália dentro do contexto da pandemia da Covid-19, os principais desafios e conquistas, a situação no Brasil, as relações bilaterais entre Brasil e Austrália em um futuro pós-Covid e o cenário geopolítico mundial.“Eu cheguei para eliminar uma percepção de distância entre os dois países, a melhor maneira de fazer isso seria através de um voo direto. Com a pandemia da Covid, esse plano que era viável, vai ser realizado daqui uns 4 ou 5 anos,” diz o embaixador sobre um de seus maiores desafios.
Sérgio Eduardo Moreira Lima e Roger Frankel, cônsul honorário de Melbourne, durante entrevista na SBS Source: LF/SBSPortuguese
Segundo ele, está havendo uma aproximação maior entre a Austrália e Brasil que decorre em função da importância que a região do Indo-Pacífico está adquirindo – tanto do ponto de vista econômico como geopolítico.
Nesses dois anos e quatro meses na Austrália, o Embaixador também destacou a criação de três adidâncias – encarregadas de representar a embaixada na Austrália em três áreas-chaves – Inteligência, Defesa e Agricultura. “Isso fortalece os instrumentos que a Embaixada tem de operar na Austrália,” explica.
De acordo com Sérgio Moreira Lima, a comunidade brasileira na Austrália está contribuindo ativamente para o desenvolvimento do país.
“Somos aqui mais de 50 mil brasileiros, ajudando a construir uma Austrália mais moderna, temos mais médicos, mais pesquisadores, 27 mil estudantes internacionais, mas com a Covid, o número diminuiu para 23 mil estudantes. No futuro, vamos ultrapassar esses números. A qualidade de vida, o sistema educacional, isso tudo atrai o brasileiro.”
Ele acredita que no futuro, o maior rival da Austrália, o Canadá, não vai atrair tantos estudantes brasileiros como a Austrália. “Os estudantes continuarão a vir para cá, os brasileiros gostam de vir para cá, as condições são excelentes não é tão frio quanto o Canadá. Isso vai continuar, essa relação. Pelo que vi aqui há uma convergência, uma vontade de ampliar [as relações enre os dois países]. Mas temos que superar o problema da epidemia.”Questionado sobre o controle pandemia da Covid na Austrália e no Brasil – os dois maiores países do hemisfério sul e entre as 15 maiores economias do mundo, parceiros e competidores saudáveis em diversas áreas – ele disse que é difícil comparar.
"A qualidade de vida da Austrália, o sistema educacional, isso tudo atrai o brasileiro,” diz o embaixador. Source: AAP Image/Julian Smith
“É dificil chegar a um consenso quando se tem uma realidade tão complexa e díspare, de uma sociedade que é muito mais coesa e que tem uma cultura com uma tradição de disciplina, inclusive militar, bem acentuada. É também a economia per capita mais elevada do mundo, nós não temos isso,” disse, se referindo à Austrália.
“Me tornei um entuasiasta em relação à Austrália, pretendo ao voltar ao Brasil e dar meu testemunho junto às autoridades brasileiras, que não puderam vir aqui pessoalmente por causa da pandemia, mostrar a minha visão do que pode e deve ser feito.”
Segundo ele, a cultura latina do povo brasileiro, uma sociedade ‘com muita gente em emprego informal, que exige a presença das pessoas, o contato a proximidade,’ dificultou o combate da Covid no Brasil.“Nós temos que melhorar, não é possível, temos que superar o problema. Nosso chanceler Carlos França colocou como urgência o combate à pandemia, recuperação da economia e desenvolvimento sustentável. Essas são as prioridades.”
Sérgio Moreira Lima também destacou o alto nível de vacinação no Brasil, que segundo ele, está entre os cinco países que mais vacinam no mundo, com 11% da população vacinada contra o coronavírus. “Já aplicamos mais de 30 milhões de doses, mais que toda a população australiana,” diz.
Visto Work and Holiday, aviões da Embraer, e a proposta de um tratado de livre comércio com a Austrália
Atualmente, cidadãos de 42 países podem aplicar para o programa Working and Holiday da Austrália. Conhecido como o visto do mochileiro, o documento permite os jovens a viajarem pelo país e trabalharem por até três anos em alguns países.
O governo australiano está atualmente em discussões com mais 10 países para um ampliar o programa, entre eles o Brasil.
O Governo brasileiro isentou os australianos de visto e “agora esperamos, isso gera um certo crédito, para que a Austrália faça o mesmo no acordo do visto Work and Holiday,” disse o embaixador que não colocou uma data para quando esse acordo seja assinado.
Sérgio Moreira Lima também falou sobre a chegada do primeiro avião da Embraer comprado pela empresa aérea Alliance, com sede em Brisbane. “A Alliance adquiriu 30 aeronaves brasileiras. Trata de um importante marco da história da Embraer na Austrália, que começou em 1978” e também destacou a proposta de um tratado de livre comércio com a Austrália. “Propomos aos australianos um acordo de livre comércio para evitar a dupla tributação, para que o produto brasileiro esteja na mesma condições que outros paises. Fizemos cordo com a União Europeia,” disse.
O Embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima deixa a Austrália no final do mês de abril. Seu substituto será Mauricio Carvalho Lyrio, o ex-embaixador do Brasil no México, que chegará a Cambera em junho. Ouça a entrevista na íntegra clicando no botão play da imagem que abre essa reportagem.