Por estes dias, é como se o campeonato brasileiro de futebol fosse o de Portugal e a Libertadores a Champions europeia.
É como se quase todo Portugal fosse do Flamengo.
Toda a gente a celebrar o êxito da equipa técnica portuguesa, comandada por Jorge Jesus (JJ), com João de Deus como adjunto.
Esgotados que estão os trocadilhos em matéria de fé e religião, com Jorge Jesus e o seu adjunto, João de Deus, resta apelar à simplicidade dos números: Jorge Jesus é, agora — e mais ainda —, o herói inigualável para mais de 40 milhões de adeptos do Flamengo, o clube com mais fãs no globo.
Muita gente, entre comentadores e treinadores, tem feito “mea culpa” por desconfiar do técnico português de 65 anos, cuja contratação, no início de Junho, fugia ao que era a regra no futebol brasileiro, habituado a reciclar nomes como Vanderlei Luxemburgo, Luiz Felipe Scolari, Paulo Autuori, Mano Menezes, Abel Braga, entre outros. Ninguém é melhor exemplo disto que Marco de Vargas, comentador da Fox Sports Brasil. Em menos de cinco meses passou de “tem três títulos na porcaria do campeonato português” para “Jesus, eu te aceito e peço perdão pelas porcarias dos meus pecados de ontem, hoje e sempre”.
Em menos de cinco meses, o antigo técnico de Benfica e Sporting elevou o Flamengo ao topo do Brasileirão, - fez dele campeão brasileiro e conquistou a Libertadores.
Para Zico, talvez o maior ídolo da história do Flamengo, Jorge Jesus é o grande responsável pelo renascimento do clube da Gávea: “Conseguiu implantar o que o adepto quer, uma equipa ofensiva que jogue para ganhar e que tenha uma marcação permanente. O Flamengo está a jogar o melhor futebol do Brasil.”
Agora ninguém duvida da qualidade do trabalho de Jesus ao ver este Flamengo jogar. “Merece tanto que o mundo o veja quanto o mundo merece vê-lo”, escreve Juca Kfouri, um dos grandes comentadores brasileiros de futebol, no seu blogue.
É facto que poucos países oferecem tão pouca segurança laboral a um treinador de futebol como o Brasil. Nada menos que 15 dos 20 clubes do Brasileirão já mudaram de treinador em 2019, pelo menos, uma vez, e o Flamengo está entre esses clubes que perdem depressa a paciência com quem está no banco. Teve uma média de dois treinadores por ano na última década, recorrendo sempre a uma poule limitada de nomes e quase sempre brasileiros, mas, na sua 20.ª mudança de treinador da década, o “Mengão” pensou diferente: para substituir Abel Braga a meio de 2019, escolheu Jorge Jesus, uma opção olhada de lado por técnicos e comentadores do “país do futebol”.
O município e o estado do RJ acabam de fazer de JJ cidadão carioca, com apelos para que continue por muito tempo no RJ.
Ainda não se sabe se fica.
Mas, com JJ, o futebol brasileiro entrou muito mais por Portugal e a festa é comum.
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