Rodrigo nasceu no Hospital de São Bernardo, em Setúbal, a 7 de outubro. Ficou conhecido como o bebé sem rosto, porque a sua cara não tem olhos e nariz e parte do crânio. O caso surpreendeu os especialistas que realizaram o parto. Até porque a gravidez não tinha sido acompanhada naquela unidade hospitalar.
Mas surpreendeu também os pais. É que Marlene, a mãe tinha feito as três ecografias habituais com um obstetra, Artur Carvalho, que a seguia numa unidade privada em Setúbal — a clínica Ecosado localizada mesmo junto ao Hospital público de São Bernardo. E nunca tinha sido avisada da existência de qualquer malformação no bebé. Os pais só foram alertados para essa possibilidade numa ecografia 5D feita numa outra clínica especializada, realizada já depois dos outros três exames. Face ao resultado preocupante, os pais questionaram o médico Artur Carvalho que os seguia. Mas este terá garantido que estava tudo bem e eles terão ficado tranquilos.
O caso de Rodrigo tornou-se público, desencadeou revolta e escândalo, porque as malformações não foram detetadas, como seria devido, nas ecografias feitas durante a gravidez.
A revelação do que aconteceu com Rodrigo acabou por trazer à luz uma série de casos semelhantes relacionados com o mesmo médico obstetra, Artur de Carvalho – o que levou a Ordem dos Médicos a suspendê-lo, para já provisoriamente, do exercício de medicina.
Rodrigo vai a caminho da terceira semana de vida
Mesmo sem nariz, já consegue respirar e mamar sem auxilio médico, falta saber aquilo que será capaz de fazer no futuro.
A evolução do bebé, e a avaliação desta evolução, terá de ser feita quase dia a dia porque é difícil prever de que forma a falta de uma parte do crânio e o facto de ter partes do cérebro que não estão completamente desenvolvidas podem afetar o desenvolvimento cognitivo da criança.
Por enquanto, os receios iniciais parecem estar descartados. Nas primeiras horas receava-se que Rodrigo tivesse alterações no tronco cerebral — a parte do cérebro que controla funções básicas como o bater do coração ou a respiração — e que o bebé não sobreviveria mais do que umas horas. Não será esse o caso e Rodrigo está quase a completar três semanas de vida, mas ainda é muito cedo para se conhecerem as consequências a médio e longo prazo.
Este caso questiona o modo como muitos médicos, em Portugal, designadamente em clinicas privadas, sob a pressão de elevado número de consultas, porque os seguros médicos e convenções com os serviços públicos as tornam muito baratas, estarão a observar doentes com ligeireza. Está desencadeada a avaliação de desempenho – sendo que nos rankings internacionais a Saúde em Portugal tem boa cotação, designadamente com o Serviço Nacional de Saúde que garante cuidados médicos a toda a gente.