Dia Mundial da Língua Portuguesa: portugueses, brasileiros e timorenses unidos na Austrália

Algumas das grandes personalidades da língua portuguesa na Austrália - embaixadores do Brasil, Timor e Portugal, representantes da ANU, Instituto Camões e DFAT.

Algumas das grandes personalidades da língua portuguesa na Austrália - embaixadores do Brasil, Timor e Portugal, representantes da ANU, Instituto Camões e DFAT. Source: SBS/Carla Guedes

O Dia Mundial da Língua Portuguesa foi celebrado em Canberra, para entusiasmo e orgulho das comunidades portuguesa, brasileira, timorense e africana na Austrália. O evento teve lugar nesta sexta-feira (6 de maio), na ANU (Universidade Nacional da Austrália), e contou com o corpo diplomático de três dos países envolvidos, bem como académicos, alunos universitários e membros das comunidades portuguesa, brasileira e timorense que aderiram em grande número à ´festa´ da diversidade e riqueza da cultura portuguesa que une estes membros da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) na Austrália.


Participaram do evento do Dia Mundial da Língua Portuguesa, em Camberra, as principais personalidades responsáveis pela representação, divulgação e manutenção da Língua portuguesa na Austrália.

Entre organizadores, patrocinadores, convidados da ANU e membros das comunidades de língua portuguesa, estiveram presentes o embaixador de Portugal, Pedro Rodrigues da Silva; o embaixador do Brasil, Mauricio Carvalho Lyrio; a embaixadora de Timor-leste, Inês de Almeida; a representante do Instituto Camões na Austrália - coordenadora do ensino da língua Portuguesa, Susana Teixeira-Pinto; bem como representantes dos consulados dos respetivos consulados.

Mas outras individualidades marcaram igualmente presença no evento: a secretária-adjunta do departamento de relações internacionais e comércio australiano (DFAT), Katrina Cooper; Alda Retre, presidente da Associação das Comunidades de Língua Portuguesa em Melbourne (impedida de estar fisicamente presente por ter contraído Covid-19, mas que mesmo assim participou com um vídeo pré-gravado); académicos das mais variadas áreas de ensino e investigação associadas à língua e à cultura portuguesa da ANU; alunos do departamento do Centro Nacional de Estudos latino-americanos, particularmente interessados no estudo da língua portuguesa; e, finalmente, vários membros das comunidades timorense, portuguesa e brasileira residentes na Austrália.
Alda Retre, na sua participação via vídeo pré-gravado. Alda Retre é uma figura incontornável do ensino da língua portuguesa no Estado de Victoria
Alda Retre, na sua participação via vídeo pré-gravado. Alda Retre é uma figura incontornável do ensino da língua portuguesa no Estado de Victoria. Source: SBS em Português/Carla Guedes
A ANU é a única universidade australiana que leciona a língua portuguesa

A escolha da ANU para anfitriã do evento comemorativo do Dia Mundial da Língua Portuguesa faz todo o sentido já que a ANU é a única universidade australiana onde a língua portuguesa faz parte do.

Catherine Travis, Professora de Línguas Modernas Europeias na Escola de Literatura e Linguística da ANU e investigadora-chefe no Centro de Excelência para a Dinâmica da Linguagem explicou o interesse da ANU pelo ensino da língua portuguesa:
A ANU é a única universidade a ensinar a língua portuguesa em toda a Austrália. Orgulhamo-nos de ser a melhor instituição académica na área das línguas e, entre as 28 a 30 línguas que ensinamos, português é uma delas. Os nossos alunos de português são diversos. Alguns têm algum tipo de ligação ao Brasil, mas outros estão interessados em relações internacionais e lei internacional.
Entre os muitos alunos da ANU (domésticos e internacionais) presentes no evento, Gerry chamou a atenção pela sua paixão pela língua portuguesa e, acima de tudo, pela articulação excepcional do português, tendo em consideração que Gerry é de origem asiática, tem o inglês como segunda língua e apenas três meses de aprendizagem da língua portuguesa na ANU.

Gerry foi o último aluno a sair do evento, tendo participado mesmo até ao fim, tal era a sua vontade de estar imerso num ambiente onde só se ouvia falar português. Este aluno da ANU explicou à SBS de onde vem esta sua paixão pela língua portuguesa e até partilhou a sua palavra preferida no nosso idioma:
Considero a língua portuguesa muito importante pois é uma das línguas mais faladas no Mundo. [...] Adoro a língua e conto ir a Portugal, Lisboa, ainda este ano. […] A minha palavra portuguesa preferida é saudade. Acho que é mesmo a palavra mais portuguesa
Fazendo jus ao tema das comemorações do Dia Mundial da Língua Portuguesa de 2022 – Literatura de Língua Portuguesa, o evento incluiu uma palestra focada em literatura de autores brasileiros e o seu respectivo contexto histórico, dada pelo embaixador brasileiro, Mauricio Carvalho Lyrio, também ele escritor e académico na área.

Lyrio, que esteve como ´peixe dentro de água´ referiu, e contextualizou na história do colonialismo, autores que marcaram a literatura brasileira tais como Padre António Vieira, Gregório de Matos, José de Alencar, Guimarães Rosa e Machado de Assis.

O embaixador brasileiro comentou ainda o seguinte, acerca desta data e evento comemorativos do Dia Mundial da Língua Portuguesa:
Este evento representa muito para a comunidade brasileira porque, no fundo, é a valorização da nossa língua e para a comunidade de brasileiros aqui na Austrália isso tem um significado especial porque somos muitos, entre 40 e 50 mil brasileiros. E eu sei que para os brasileiros na Austrália há, sim, o desejo de manter a língua portuguesa, principalmente para os filhos como língua de herança.
Já o embaixador português, Pedro Rodrigues da Silva enalteceu a vida e a obra do escritor português e Nobel da literatura, José Saramago, apresentando o documentário “Herdeiros de Saramago” do também escritor português, Gonçalo M. Tavares - vencedor do prémio de literatura “Saramago 2005”.
Embaixador de Portugal, Pedro Rodrigues da Silva, durante a sua apresentação do documentário "Herdeiros de Saramago"
Embaixador de Portugal, Pedro Rodrigues da Silva, durante a sua apresentação do documentário "Herdeiros de Saramago" Source: SBS em Português/Carla Guedes
Pedro Rodrigues da Silva comentou a extrema importância de um evento desta natureza para a comunidade portuguesa, mas também para todas as nove comunidades CPLP, três das quais têm efetivamente mais expressão na Austrália:
Esta diversidade da língua portuguesa é de uma riqueza enorme. A língua portuguesa é uma língua de cultura, mas, principalmente, de culturas. Portugal só é grande quando estamos em comunhão com os nossos irmãos da língua portuguesa.
Por seu turno, a embaixadora de Timor-leste, Inês de Almeida, refletiu acerca da importância da língua portuguesa para Timor e o seu povo:
Os portugueses e a língua portuguesa ajudaram-nos [aos timorenses] a sabermos quem somos e a lutar pela nossa independência e democracia. O português foi a língua da resistência timorense - nas montanhas era a língua falada entre os membros da nossa resistência.
A este propósito, Inês de Almeida explicou a relevância da data 5 de maio para o seu país - coincidentemente, Timor-leste também celebra a assinatura do referendum para a independência do país a 5 de maio, independência essa que faz 20 anos em 2022.
Luciano Valentim da Conceição, cônsul-geral de Timor-leste em Nova Gales do Sul (segundo à esquerda) junto de alguns dos membros da comunidade timorense que fizeram questão de estar presentes no evento
Luciano Valentim da Conceição, cônsul-geral de Timor-leste em Nova Gales do Sul (segundo à esquerda) junto de alguns membros da comunidade timorense. Source: SBS em Português/Carla Guedes
A embaixadora foi quem passou a palavra ao secretário-executivo da CPLP, Zacarias da Costa, o qual falou via mensagem de vídeo num discurso sobre o futuro da língua portuguesa no mundo:

"Estima-se que, de acordo com projeções da Nações Unidas, o universo de falantes da língua portuguesa atingirá os 500 milhões de falantes no mundo até ao final do século. Neste momento, já temos 260 milhões de falante em 4 continentes, sendo a nossa língua a primeira mais falada no hemisfério sul, a quinta língua mais falada no mundo, sendo ainda uma das línguas mais faladas na Internet e nas redes sociais e a língua oficial de trabalho e negócio em várias organizações internacionais", referiu, Zacarias da Costa.
Já em entrevista para a SBS, a embaixadora de Timor confessou que há espaço para melhorias no ensino da língua portuguesa na Austrália já que, à exceção da escola de português em Darwin, há poucos alunos timorenses, ou mesmo nenhuns em alguns estados, nas escolas do ensino da língua portuguesa na Austrália.

Inês de Almeida acredita, no entanto, que é possível corrigir a situação a médio/longo prazo e que essa missão também passa por ela e pelo trabalho de divulgação das escolas portuguesas junto da comunidade timorense:
Este é o meu trabalho bem como dos consulares radicados principalmente em Melbourne. Foi uma surpresa saber que temos uma professora portuguesa, Alda Retre, que dá aulas em Melbourne. É meu trabalho ir agora a esta escola, na minha próxima ida a Melbourne, e promover esta escola junto da comunidade timorense da zona.
Também Susana Teixeira-Pinto, coordenadora do ensino da língua portuguesa na Austrália, comentou a participação do Instituto Camões na organização e patrocínio deste evento:
Este evento contou com a participação das embaixadas brasileira e timorense, sendo o Camões o principal patrocinador financeiro. O evento correu muitíssimo bem após dois anos de interrupção por causa da pandemia. Teve uma audiência muito interessante, e o evento em si demonstrou bem o dinamismo e a diversidade da nossa língua e da nossa cultura.
Em relação aos potenciais alunos timorenses e africanos nas escolas de língua portuguesa por todo o território australiano, Susana Teixeira-Pinto explicou as dificuldades e oportunidades nesta matéria:
[Em tempos] já tivemos alguns alunos timorenses nas nossas escolas. E em Darwin, no Território do Norte, a maioria dos nossos alunos até é timorense devido à proximidade de Timor. Já os alunos africanos, lamentavelmente, não temos ainda representação oficial.
A fechar o evento, Dr. Fabricio Tocco, o coordenador da língua portuguesa da ANU e um dos organizadores deste evento - que curiosamente é originário de Buenos Aires, Argentina, mas viveu em São Paulo, Brasil, no seio de uma família plurilinguística e de origem multicultural que inclui raízes italianas, portuguesas e indígenas - deixou a sua mensagem de vídeo a qual enviou diretamente do Canadá.

Tocco terminou o evento com a frase portuguesa muito típica, que a todos fez rir nas bancadas do anfiteatro da ANU:
E, pronto, acabou-se o que era doce!
Para ouvir a reportagem completa da SBS em português do evento do Dia Mundial da Língua Portuguesa na ANU, em Camberra, clique no “play” na fotografia que abre esta peça.

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