Imagens horripilantes da catastrófica temporada de incêndios florestais do verão negro na Austrália em 2019 e 2020 ainda estão frescas na memória da maioria dos australianos.
Uma história de secas e eventos de branqueamento em massa na Grande Barreira de Corais indica o quão vulnerável o país é aos impactos das mudanças climáticas.Em 2100, as mortes anuais por calor extremo em todo o mundo deverão superar todas as mortes por coronavírus registradas em 2020.
Source: AFP
Esses dados foram divulgados em um novo relatório da organização sem fins lucrativos Climate Council.
Um dos autores do relatório, Professor Will Steffen, diz que os desastres nos próximos anos refletirão anos de inação climática.
"Quando você olha o que já está bloqueado no sistema climático por causa da inação no passado - inação até 2020 - vamos vivenciar o aumento das temperaturas, piora do clima extremo, por pelo menos uma década ou duas."
O custo de condições climáticas extremas na Austrália mais do que dobrou desde a década de 1970 e totalizou 35 bilhões de dólares na última década.
E os autores do relatório prevêem que os danos anuais causados pelo clima extremo podem ultrapassar 100 bilhões de dólares em 2038.
Um ex-funcionário das Nações Unidas sobre redução de risco de desastres, Dr. Robert Glasser diz que o relatório do Climate Council deve estimular a ação governamental imediata.
"Os australianos vivem em áreas expostas a graves riscos de ciclones extremos e incêndios florestais. Portanto, nossa exposição interna a perigos é um fator bastente importante. Mas também vivemos em uma região que será desproporcionalmente afetada pelas mudanças climáticas. Os problemas: insegurança alimentar, populações deslocadas. Todas essas coisas levarão à instabilidade política que irá minar rapidamente nossa segurança nacional.”
O relatório diz que o governo não está fazendo o suficiente para reduzir sua emissão de carbono.
O professor Steffen diz que a Austrália deve reduzir pela metade suas emissões até 2030 e atingir as emissões líquidas zero até 2040.
“Nossa meta de redução de emissões de 26 a 28% até 2030 é muito, muito fraca para fazer qualquer diferença no sistema climático. Estamos aqui sentados propondo manter o carvão em funcionamento por mais várias décadas, propondo a expansão da indústria do gás. Isso significa acabar com o futuro dos nossos filhos. O resultado será catastrófico."
O tesoureiro Josh Frydenberg disse que a Austrália está cumprindo as metas atuais.“As mudanças climáticas são reais e é por isso que o governo de Morrison está focado em reduzir a emissão de carbono da Austrália. E com base nas estimativas atuais, a Austrália superará suas metas para 2030 em mais de 400 milhões de toneladas."
Source: AAP
O professor Steffen diz que mudar o sistema elétrico da Austrália para um sistema renovável, investindo em hidrogênio limpo e transporte eletrificado, pode ser alcançado de uma forma economicamente eficiente em um cenário de recuperação do COVID-19.
Ele diz que uma recuperação movida a gás proposta pelo governo federal é problemática.
Isso acontece quando alguns parlamentares nacionais pedem que novas usinas elétricas movidas a carvão sejam construídas na Austrália.
O senador Matt Canavan disse que a proposta de construção de uma nova usina a carvão em Hunter Valley, em Nova Gales do Sul, aumentará os empregos na área.
Mas Frydenberg diz que atualmente nenhum plano está em andamento.
"Não temos planos de pagar para construir uma nova mina de carvão ou uma nova usina elétrica a carvão na Austrália. Estas serão decisões comerciais. Falei com o ministro da energia e, como ele indicou, estou apontando agora, obter aprovações para essas novas usinas seria uma questão que caberia aos estados.”
O vice-primeiro-ministro Michael McCormack diz que uma mistura diversificada de fontes de energia é necessária para o país."As necessidades energéticas da Austrália precisam vir de uma gama diversa e mista de fontes. O carvão fornece empregos para dezenas de milhares de australianos. Fornece dezenas de bilhões de dólares para nossas indústrias de exportação. Fornece dois terços de nossa necessidade energética. Portanto, o carvão será uma parte muito importante da nossa matriz energética daqui para frente e isso é apenas um fato.”
Source: AAP