A australiana mais brasileira está se tornando uma celebridade no Brasil como a primeira musa a desfilar pelo grupo especial das escolas de samba do Rio de Janeiro. Mishel já deu entrevistas para a Globo, Vogue Brasil e revista Quem.
Embora esta seja a sétima vez que Mishel desfila na avenida, essa é a primeira vez que desfilará como musa no grupo especial, a primeira vez que uma australiana, segundo ela, conquista a ‘honra’ de ser musa.
O convite para dançar com a escola de samba Império Serrano veio da rainha da escola, Quitéria Chagas. A Império abrirá o carnaval de 2019 no domingo, 3 de março.
Mishel conheceu Quitéria na Itália e disse que sempre foi uma grande admiradora do trabalho da brasileira. “Ouvi dizer que ela morava em Milão e vim falar com ela para obter algumas dicas técnicas. Quitéria sugeriu que eu participasse do evento de 2019. Em pouco tempo, entrei em contato com a presidente da Império que disse que ficaria muito feliz em ter uma australiana como parte do evento deste ano. ”
Mishel disse que sempre teve ‘samba no pé’ e já desfilou em outras escolas de samba do grupo de acesso.
“É uma grande honra, eu tenho trabalhado com samba nos últimos 10 anos, é um desafio para mim, eu não sou brasileira, mas sou completamente apaixonada pelo samba. O samba não é apenas uma dança, é um estilo de vida, é uma religião, é a comunidade”.
"Espero poder entrar na avenida e mostrar essa felicidade, esse amor que tenho pelo samba. Quero mostrar ao público o quanto amo a cultura brasileira." (Photo: Luiz Brown) Source: Luiz Brown
O Sambódromo
Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o Sambódromo faz a continuação da Marquês de Sapcucaí e é o local por onde passam as 13 escolas do grupo especial. São apenas 700 metros, mas para Mishel “é como se fossem mais de 10 quilômetros,” brinca.
“Eu tenho treinado e me preparado muito nos últimos 12 meses. Eu malho, pratico samba com caneleira. Também estamos ensaiando na rua, pois rua é muto diferente de chão de academia. E o asfalto do Rio é bem diferente do asfalto australiano. Treinar na rua também nos permite sentir a temperatura e se aclimatar com o calor, a umidade”.
“Minha dieta é bastante equilibrada, bebo muita água e também descanso quando posso. Você precisa se tornar uma atleta para este evento. ”
Embora o samba pode exgir muito do corpo, Mishel diz que seu maior desafio é se preparar mentalmente.
“É uma performance, você tem que ter uma auto-estima muito alta e você não pode se comparar com as outras musas brasileiras, eu não sou brasileira, meu corpo não é um corpo brasileiro, então eu faço o que é melhor para mim e para o meu corpo."
Designed by architect Oscar Niemeyer, his first work after the end of the dictatorship, the Sambadrome is a purpose-built parade area built for the Carnival. Source: Wikimedia Commons
A fantasia
"Minha fantasia representa o samba-enredo deste ano, que diz “viver e não ter a vergonha de ser feliz”. Espero poder entrar na avenida e mostrar essa felicidade, esse amor que tenho pelo samba. Quero mostrar ao público o quanto amo a cultura brasileira. Meu traje é colorido, cheio de penas de faisão. O esplendor pesa 15 quilos e eu vou estar com um salto plataforma de 16cm. Estou pronta."
“I will be the first Australian 'muse' to parade in the special group of samba schools in Brazil” Source: Supplied
O desfile
“Não há coreografia, mas você é obrigada a preencher o espaço ao seu redor, estar ciente dos carros alegóricos, ter cuidado para não ser atropelada, você tem que ir muito ao público e mandar beijos,” explica Mishel.
“Mas o que você mais tem que fazer é dançar, senão o público vai reclamar, você deve dançar sem parar. Uma das minhas estratégias para descansar durante o desfile [que dura 80 minutos] é posar. Respire, ande um pouco, pose e depois … samba no pé.”
“E você tem que se sentir e se mostrar maravilhosa com todo esse peso em você, absolutamente maravilhosa. Eu só rezo para não chover."
No Brasil, é exigido que todos os sambistas cantem a música da escola, Mishel explica que o júri também irá pontuar as musas em seu canto. "Você não pode dançar só você também tem que cantar e cantar muito."
“Eu tenho 176 cm e com o salto de 16cm eu viro uma gigante, o que é bom quando você tem que olhar para todas as milhões de pessoas na platéia, as câmeras de televisão, os fotógrafos, todos eles estão ao seu redor, na sua frente. Há muito movimento ao seu redor e você tem que prestar atenção em tudo.”
“The Sambadrome stretches for only 700mts, but it feels more like 10km, a long road.” Source: Supplied
Escola de samba em Brisbane
Mishel ensina samba em Brisbane faz 10 anos. Ela ensina os passos da dança, a história e a cultura brasileiras.
“Eu sempre digo que posso ensinar alguém a sambar em 5 minutos. Mas, para realmente dominar a dança, demora mais."
Mishel diz que faz muito treinamento para manter as alunas em forma e ‘malhadas’. “Eu também trabalho com o samba como uma forma de melhorar a auto-estima das meninas. Você coloca as mulheres na frente do espelho e elas se sentem inseguras sobre seus corpos, elas têm que se sentir bonitas e sensuais”, disse ela.
Todos os anos, Mishel leva suas alunas para participar dos desfiles de carnaval do Rio, já que acredita que elas só conseguem entender o samba quando dançam no Rio de Janeiro.
“Eu acho que o samba está crescendo na Austrália e ao redor do mundo, principalmente porque você não precisa de um parceiro, você pode ir para a aula sozinha, dançar sozinha.”
Every year Mishel takes her Australian students to participate in Rio’s Carnival parades, as she feels they can only fully understand samba when they are on the Sambadrome. Source: Supplied
Samba na Austrália
Mishel irá liderar o desfile da Escola de Samba "Unidos de Sydney" em março. A escola será um dos destaques do Festival Parramasala, em Parramatta.
“Tenho muito orgulho de representar a Austrália no Brasil e quando volto para casa, estar junto com a Unidos de Sydney e representar o Brasil na Austrália.”