A vida blindada de Roberto Saviano

Roberto Saviano

Roberto Saviano Source: SBS file

O novo livro do ativista antimáfia italiano é uma investigação profunda sobre os mecanismos da propaganda, censura e manipulação


O filme premiado no Festival de Cannes e a série de televisão exibida em 150 países, "Gomorra", contribuíram para dar notoriedade internacional a Roberto Saviano, o jornalista, ativista antimáfia e escritor que, com o livro que deu origem àquelas duas adaptações, alcançou êxito global: mais de 12 milhões de exemplares vendido, mas com alto preço pessoal.

Passou a viver a vida fora da normalidade. Está sob ameaça constante da violência da máfia napolitana e outras famílias do crime que ele denuncia no livro de 2004.

Por isso, e porque Saviano se dedica de modo permanente à corajosa denúncia dos processos mafiosos na sociedade e em volta de diferentes poderes, ele tem a vida quotidiana blindada, ocultada e forçada a escolta 24 horas por dia, protegida (a dele e a dos seguranças) por colete anti-balas.

Saviano passou a sentir a gomorra na pele. As intimidações sucedem-se de dentro e de fora de Itália como resposta às denúncias que lança. Ele acusa o que define como o regime criminoso de Erdogan na Turquia, que elimina opositores, persegue refugiados, prende escritores e jornalistas.

Ele denuncia (com nomes) a economia criminosa que continua a prosperar em Itália. Ele clama contra a deriva autoritária que o chefe político da Liga, Matteo Salvini, apesar de agora na oposição, tenta instalar em Itália e o modo como este chefe da direita radical persegue quem tenta ajudar os migrantes – o modo como Salvini tentou amordaçar a ele, Saviano, através do tribunal com a pretensão de criminalizar a liberdade de critica

Saviano expõe como a criminalidade desfruta da pandemia em contágio de negócios mafiosos. Ele condena hipocrisias europeias, perante violação de valores fundamentais da união, que se quer aberta e solidária. Ele denuncia os ataques à liberdade pelos pirómanos do ódio. Apela ao jornalismo e à cultura – que não cedam à tentação da passividade.

Roberto Saviano, convencido de que a voz é um formidável instrumento para contar, passou a fazê-lo através de um podcast. "Le Mani Sul Mondo" – As mãos sobre o mundo, em que nos traz, seja o exemplo de vidas combatentes pela liberdade, jornalistas como as assassinadas Daphne Caruana Galizia e Anna Politowskaya. Juízes antimáfia, como Giovani Falcone e Paolo Borselinno. Mas também as histórias e os factos de agora. 

Roberto Saviano, 40 anos de idade, licenciado em filosofia, com a paixão de ler e de escrever tomado pela febre de justiça e liberdade e com a convicção de que a palavra e a verdade dos factos são arma mais poderosa que as balas, acaba de publicar mais um livro: "Gridalo" no titulo em italiano. Encaminha-nos para um apelo ao grito – o grito de denúncia.

São 540 páginas em que Saviano desmascara mecanismos da manipulação e da censura e exorta à mobilização de todos para que um mundo melhor seja possível. Não será um colosso de arte literária. Não é um romance, é uma investigação profunda sobre os mecanismos da propaganda, da censura, da manipulação. 

A estreia de Paulo Moura na ficção

Aqui é literatura produzida por um jornalista, Paulo Moura, grande repórter Acaba de publicar "Hipnose". Desta vez, o relato não é jornalístico. É a estreia dele na ficção, mas com fundo na realidade, com base em personagens reais como um gestor de perceções. 

É um instrumento para o exercício do poder e o modo como o jornalismo se confronta com as contradições que dominam o mundo. Este "Hipnose" de Paulo Moura, com viagem de Washington a Esmirna, passando por Nova York, Iraque e Kuwait, põe-nos a pensar sobre como chegámos ao mundo de hoje.

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