Nessa entrevista a SBS em Português, Guido fala sobre a sua jornada até a Austrália, como se deu o projeto do livro e o que vem por aí.
'Growing Up in Australia' é uma compilação de diversos relatos de escritores da diáspora africana que vivem na Austrália. Como você se envolveu nesse projeto?
As inscrições foram abertas no começo de 2018 e eu decidi escrever um conto sobre minha história na Austália. Fui um dos aprovados das centenas de história submetidas e faço parte do livro com outros 34 autores.
A sua história começa na Bahia, no Brasil, onde sofreu racismo ainda criança e depois, segundo seu relato, ainda mais quando mudou para o Rio de Janeiro. Como essas experiências fizeram de você a pessoa que é hoje?
A individualidade é um privilégio branco. Nossa sociedade e heranças racistas não nos dão a oportunidade de nos expressar como indivíduos. Sempre fui negro primeiro antes de ser o Guido Melo, estudante, profissional e escritor por exemplo. Tudo isso contribuiu para a pessoa que sou hoje.
A Austrália, que como o prefácio do seu livro aponta, é uma terra negra, uma terra aborígene, a editora do livro, a premiada Maxine Beneba Clark, disse que mesmo a diáspora africana é colonizadora aqui. Porque é importante para vocês fazerem essa diferenciação?
O primeiro passo para se corrigir injustiças é reconhecer que elas existem. Fazer uma antologia de contos de afroaustralianos sem mencionar os povos indígenas da Austrália seria desonesto. Negros de outros países sofrem racismo porém contam com certos privilégios (mesmo que pequenos em alguns casos) que povos indígenas não tem.
Quem são os negros afro descendentes aqui na Austrália? A maioria deles ainda é formada por imigrantes não?
Muitos afroaustralianos negros são nascidos aqui. Muitos negros vêm da diáspora negra das Américas e Caribe além de ingleses , franceses, e outros das ilhas do pacífico. Enfim somos um 'melting pot'
Eu queria falar um pouco de você como escritor brasileiro imigrante negro afrodescentende. Porque você resolveu contar sua história?
A história é escrita por quem vence. Eu sou um sobrevivente de mais de 500 anos de genocídio negro, genocídio que começou na África no século 15 e contina até hoje no Brasil e nas Américas em geral. Eu preciso registrar isso hoje para que outros amanhã leiam meu relato em minha própria voz.
A história é escrita por quem vence. Eu sou um sobrevivente de mais de 500 anos de genocídio negro, genocídio que começou na África no século 15 e contina até hoje no Brasil e nas Américas em geral. Eu preciso registrar isso hoje para que outros amanhã leiam meu relato em minha própria voz.
Como foi escrever e se expressar em inglês?
Depois de 18 anos aqui para mim é natural. Escrevo melhor em inglês inclusive (fiz vários workshops de escrita aqui).
Depois de 18 anos aqui para mim é natural. Escrevo melhor em inglês inclusive (fiz vários workshops de escrita aqui).
O que diria para outros imigrantes negros afrodescendentes e que falam a lingua portuguesa no mundo, sobre essa experiência de escrever. Nós imigrantes adoramos escrever e nos entender. Qual sua mensagem?
A Austrália está de portas abertas. O futuro é de vocês. O futuro é nosso. Venham com coragem, vivam com energia, cada geração puxa um pouco o bastão. Vamos para frente!
A Austrália está de portas abertas. O futuro é de vocês. O futuro é nosso. Venham com coragem, vivam com energia, cada geração puxa um pouco o bastão. Vamos para frente!
Quais são seus planos para o futuro?
Continuar escrevendo e contribuindo para um mundo melhor , mais democrático, justo e diverso.
Continuar escrevendo e contribuindo para um mundo melhor , mais democrático, justo e diverso.