A última década consolidou a cantora Luísa Sobral como um dos grandes nomes da música portuguesa.
De promessa emergente em 2011, ano de seu primeiro álbum, ela entra nos anos 2020 com cinco obras de estúdio gravadas, um inédito título do Eurovisão para Portugal em 2017, como autora da canção defendida por seu irmão Salvador, e uma requisitada carreira de compositora que não simpatiza com as fórmulas fáceis de criação.
E agora é a vez da Austrália conhecer a voz e a obra de Luísa Sobral, uma das atrações do , em Adelaide, nos dias 7 e 9 de março. Luísa também fará shows em Melbourne (11) e Sydney (14). Ela também fala sobre seu estilo, suas referências, sobre ser mulher no majoritariamente masculino mundo da composição. E diz aos portugueses querer trazer um bocadinho de casa a quem na Austrália há tanto tempo está.
"Esta vai ser minha primeira viagem à Austrália. Para mim e para todos os meus amigos europeus é um sítio de eleição, onde todos queremos ir, mas que é tão longe e tão caro que a maior parte das pessoas demora muito tempo para ir, ou não vai. Então estou super feliz por ter esta oportunidade de ir e mostrar minha música. Estou super entusiasmada."
As referências artísticas mudam com o tempo, mas Luísa Sobral diz hoje estar em uma fase lusófona. Além dos conterrâneos e amigos Antônio Zambujo e Mario Laginha, cita o brasileiro Chico Buarque como um mestre da canção.
"As minhas referências são muitas, e elas também vão mudando ao longo dos tempos. Agora, por exemplo, ouço muita música em português. Uma de minhas maiores referências em nível de composição, de canção, sempre foi o Chico Buarque. Para mim, Chico Buarque é perfeito na composição, ou seja, as letras são maravilhosas, as melodias são maravilhosas, e a harmonia é maravilhosa. Para mim, é muito completo. E na música brasileira há muitos, Chico, Caetano (Veloso), o Tom Jobim. Em nível de cantora, Elis Regina também uma é grande referência. No mundo brasileiro eu tenho muitas referências. Depois, em Portugal, hoje em dia eu ouço muito amigos meus. O Antônio Zambujo, por exemplo. O Mario Laginha. Gosto muito de outros cantores como a Márcia, por exemplo. Muita música boa a acontecer agora em Portugal. Samuel Úria, por exemplo. E o fado, é claro, gosto muito de escrever para o fado também. Então todas estas coisas acabam por ser uma referência na maneira como escrevo. Tudo aquilo que ouço me faz escrever de forma diferente. Como estou numa fase de enamoramento pela nossa língua, acabo por ouvir muita música em português. Esta tem sido a minha maior referência nos últimos tempos."
Luísa Sobral faz também música pop, mas não se identifica com as fórmulas fáceis de criação. A música emocional, e não a cerebral a seguir receitas, é o que lhe toca. E crê na sinceridade musical da canção para cativar seu público.
"O que eu sinto é que a música que me atrai normalmente é emocional e não cerebral. Ou seja, hoje em dia muitas coisas se fazem como uma receita culinária. 'Ah, temos que por o refrão já aqui no primeiro minuto ou as pessoas não ficam aterradas 'a canção'. 'Não pode não ter bateria"'. Coisas assim para mim não fazem qualquer sentido na minha maneira de ver a música. Acho que temos que ouvir a canção e ver o que ela quer. Há canções minhas que podem nem ter refrão, e há canções que podem começar com refrão. Há canções em que o que o refrão pode ser meio ambíguo, se a canção assim o quis. A canção pode ter um minuto. 'Ah mas isso quase não é tempo de canção'. Pois, foi o que ela me pediu, ela só queria ter um minuto. Se estou a tocar, sinto que acabou ali, não faz sentido ir mais longe. Eu gosto deste tipo de música, que veio de um lugar genuíno, e não de um lugar de receita. E o objetivo é agradar o público através de nossa sinceridade musical, porque esta transparência passam ao público de uma forma muito verdadeira. Quando as coisas são feitas diretamente para agradar ao público, torna-se um bocado fast food, com um sabor plástico. Mas os gêneros musicais não dizem nada, o pop tem coisas maravilhosas também, tudo dependa da origem da construção, de como essa música é gerada."
Como na maioria das indústrias, o meio musical tem um pendor masculino histórico na criação. Luísa Sobral entende a importância de ser mulher hoje neste meio, mas ressalta ter relação excelente com os colegas homens.
"Se formos a ver por este prisma, quase tudo é um mundo historicamente de homens, menos o homem de tocar conta das crianças, da casa e de ter os bebês. Por isso nós mulheres em quase todas as novas profissões somos pioneiras. Na composição é muito verdade, vejo isso em Portugal. Há poucas compositoras mulheres. Sinto que passamos uma fase importante, eu e algumas amigas termos visibilidade para também podermos ser inspiração para outras mulheres que nos possam ver e pensar que esta é uma possibilidade de futuro e se inspirem em nós. Está a acontecer algo em Portugal muito bonita, que é... quase sempre os homens cantaram palavras dos homens. E as mulheres cantavam palavras dos homens também, porque os homens eram os compositores. E é verdade que homens e mulheres escrevem de forma diferentes, nós temos maneiras de ver o mundo, talvez, um pouco diferentes. Não é melhor ou pior, apenas um pouco diferente. E também não quer dizer que seja mais sensível. Mas o que é interessante hoje em dia é ver homens cantar palavras de mulheres, o que não acontecia muito. Voltando a me referir ao Chico Buarque, conheci o Chico a cantar como se fosse uma mulher, mas não eram palavras de mulher, eram palavras de um homem. Então é muito bonito isso, Vejo isso acontecer com o Antônio Zambujo, meu amigo e para quem escrevo. Escrevi uma canção para ele no feminino, e ele a manteve no feminino e é super bonito vê-lo cantar as minhas palavras. É um período muito especial para as novas compositoras."
"E se eu já tive alguma dificuldade ser mulher, eu raramente sinto isso na minha profissão. É mesmo muito raro sentir alguma diferença por ser mulher, mesmo em termos de assédio. Aconteceu alguma coisa pontual, nada de especial. Sempre me senti muito respeitada e querida pelos meus colegas sem ver paternalismo nem nada. Sempre me senti muito abraçada pelos meus colegas compositores, tanto pelos mais velhos como pelos mais jovens. Não sinto esta diferença por ser mulher, nem sinto que tenho que provar mais por ser mulher no mundo dos compositores."A cantora lisboeta espera fazer com que os portugueses expatriados consigam se sentir um pouco em casa com sua música.
Luísa Sobral: "O que eu sinto é que a música que me atrai normalmente é emocional e não cerebral. Temos que ouvir da música o que ela quer" Source: Divulga~
"Queria dizer a todos os portugueses que estão a ouvir que gostava muito de lhes ver em Adelaide, em Melbourne ou Sydney. Vou tentar trazer um bocadinho de casa a todos vocês, nem que seja pela nossa língua. Espero que que possam comigo fazer uma pequena viagem sem ter saído do vosso lugar."
Shows na Austrália.
Sábado, 7 de março.
WOMADelaide -- Adelaide.
Segunda-feira, 9 de março.
WOMADelaide -- Adelaide.
Quarta-feira, 11 de março.
The Boíte -- 75Reid, Fitzroy North (Melbourne).
Sábado, 14 de março.
Sydney Portugal Community Club -- Marrickville (Sydney).