Os australianos LGBTIQ+ enfrentam desafios de saúde mental desproporcionais em comparação com a comunidade heterossexual, mas muitos não conseguem ou não querem ter acesso a ajuda.
Novas pesquisas revelam que esses problemas adversos de bem-estar estão custando bilhões de dólares à comunidade LGBTIQ+.
Há crescentes pedidos de investimento em serviços de saúde e maior conscientização sobre doenças mentais na comunidade australiana.E as disparidades de saúde mental entre os australianos LGBTIQ+ e a população em geral permanecem significativamente altas.
Source: APS
Uma nova pesquisa do relatório Queer Young People in Australia 2021 da Monash University mostra que os jovens LGBTIQ+ são 85% mais propensos do que os cisgêneros a classificar sua saúde mental como ruim ou muito ruim.
Para o homem trans Teddy Cook, isso não é surpresa.
"Na sociedade, crescemos sendo informados de que não estamos bem, que há algo errado conosco, que somos um problema e que somos um desafio para consertar. Não vejo relacionamentos como o nosso, ou pessoas como nós, na mídia, certamente não sendo posicionados como contribuintes maravilhosos para a sociedade. Isso realmente deixa uma marca profunda."
Essas cicatrizes também têm um custo econômico e financeiro.
E um estudo do serviço de saúde LGBTIQ+ Thorne Harbor Health estima que o preço pode chegar a 3 bilhões de dólares.
O relatório descobriu que a taxa de episódios de saúde mental ao longo da vida para os membros da comunidade LGBTIQ + em Vitoria é de 73% - significativamente maior do que os 46% da população em geral.
Simon Ruth é o executivo-chefe da organização.
Ele disse à SBS que, embora o relatório tenha como foco os vitorianos, esses custos podem se aplicar ao resto do país.
"Custos financeiros e econômicos são vistos como o custo do sistema de saúde para tratar alguém com ansiedade, depressão e tendências suicidas. Também analisava o luto associado ao suicídio. Assim, se alguém comete suicídio, o que aconteceu ao seu redor, incluindo os custos do funeral, os custos de cuidados formais e da investigação para a polícia."
O estudo também descobriu que os efeitos secundários representam bilhões de dólares.
Isso inclui custos para os empregadores de até 1 bilhão de dólares por causa da produtividade reduzida e também para os governos que pagam pelos encargos.Mas o relatório descobriu que os custos são ainda maiores para os próprios LGBTIQ+ vitorianos, no valor de até 23,4 bilhões de dólares em redução do bem-estar e de expectativa de vida.
Os australianos LGBTIQ+ são mais propensos a enfrentarem problemas de saúde mental do que os australianos cisgêneros. Source: Pexels / Alex Green
A CEO da LGBTIQ+ Health Australia, Carolyn Gillespie, diz que quantificar esses custos ajuda a aconselhar os governos para onde direcionar seus investimentos.
"É importante colocar um valor em dólares no custo de resultados adversos de saúde mental, porque na verdade nos permite construir uma resposta apropriada. A experiência viva das pessoas e suas comunidades são impactadas por coisas como estigma e discriminação, além de outras variáveis, como idade, classe social, se a pessoa vive em uma área remota ou regional, se faz parte dos Povos das Primeiras Nações e as maneiras que essas experiências e características impactam na experiência vivida das pessoas que sofrem com problemas de saúde mental."
Mas Carolyn diz que esses desafios de saúde mental geralmente são deixados de lado, principalmente por membros mais jovens da população LGBTIQ+.
"Acho que há uma série de fatores pelos quais os jovens LGBTIQ + em particular lutam em termos de acesso a serviços e apoios, principalmente quando eles não aceitos em seu meio. Temos a maioria das pessoas LGBTIQ+ em toda a Austrália acessando os principais serviços de saúde mental."
Os defensores dos direitos LGBTIQ+ continuam pedindo serviços de saúde mental personalizados para australianos LGBTIQ+, incluindo espaços onde eles se sintam seguros e ouvidos.
Simon diz que é comum as pessoas LGBTIQ+ adiarem os cuidados de saúde por medo de discriminação.
"Existe uma teoria chamada ‘estresse de minoria’ para as pessoas LGBTIQ+. Toda vez que conhecemos alguém novo, toda vez que vamos ao médico, toda vez que estamos em um lugar novo, sempre há aquela experiência de ter que sair do armário. Nunca sei se vai ser uma experiência positiva ou não. Recentemente ,meu parceiro estava no hospital. E eu tive que ligar para o hospital e quatro vezes quando fui transferido para pessoas diferentes. Eu dizia que meu parceiro estava internado e eles me diziam, ‘qual é o nome dela?’. E eu tive que corrigi-los e dizer ‘bem, o nome dele é...’. E toda vez que fazemos isso, há um estresse associado a isso, porque não se sabe qual será a reação do outro."
De acordo com o relatório da Universidade Monash, esse 'estresse de minoria' é particularmente notório entre os estudantes LGBTIQ+.
Blake Cutler, autor do relatório, diz que esses australianos são 33% mais propensos a vivenciar um estresse significativo em interações com outros estudantes em comparação com seus colegas heterossexuais.
"Quando olhamos para a base de evidências mais ampla em torno das experiências dos jovens queer nas escolas, vemos que as escolas muitas vezes não são ambientes acolhedores e de apoio. Muitas vezes, os próprios colegas são quem praticam assédio e atos discriminatórios. Portanto, interagir com eles e estar perto deles, torna-se um fator chave que influencia a experiência escolar."
Simon Ruth diz que é preciso haver mais serviços específicos para LGBTIQ+ em organizações comunitárias.
"Também precisamos de organizações comunitárias para melhorar esse cenário. O fato é que nossas próprias organizações, não somos muitos e tendemos a ser muito urbanos. O impacto é ainda maior para todas as pessoas LGBTI em áreas rurais e áreas regionais, onde também pode haver muito mais estresse pela falta de um senso de pertencimento. Precisamos que as organizações tradicionais façam um trabalho melhor."
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