A companhia de teatro só conseguiu entrar em cena com duas performances da nova peça em Les Kurbas, já que os mísseis na cidade de Lviv começaram e mais nenhuma sessão do espetáculo foi possível.
Mas o ´pano não caiu´ e o palco deu lugar a um espetáculo mais real e importante de solidariedade entre o povo ucraniano. Os cenários foram rapidamente retirados e os assentos da plateia removidos. E este centro cultural é agora um abrigo temporário para dezenas de refugiados.O ator, Andrii Vodychev, que supostamente estaria a atuar neste local que já conta com 200 anos existência, passa agora os seus dias a ajudar os seus conterrâneos que precisam de comida, abrigo e, muitas vezes, apenas alguém com quem conversar.
Andrii Vodychev é um dos atores do teatro Les Kurbas, que agora dedica o seu tempo a ajudar os seus conterrâneos Source: Source: SBS / Ben Lewis
Não podíamos cantar, não podíamos ensaiar, então decidimos que seríamos mais úteis ajudando as pessoas que precisam de ajuda
Diz Vodychev.
Não somos atores agora, porque o drama acontece no mundo real. Quero a vitória da Ucrânia para que possamos voltar a atuar para o povo
Entre os ucranianos que estão abrigados neste teatro, está Ludmilla, de Dnipro, no centro-leste da Ucrânia.
Ela viajou para Lviv com a sua filha e a sua neta de sete anos, Lera. Já estão a dormir juntas nas cabines do teatro há várias noites seguidas.
É muito confortável, tudo aqui é bom: temos comida, alguém que nos acolhe calorosamente e temos um lugar para dormir. Mas não podemos ficar aqui para sempre
Diz Ludmilla com preocupação.Ludmilla espera deixar Lviv nos próximos dias para cruzar a fronteira e eventualmente chegar à Alemanha.
A avó Ludmilla e a neta, Lera, agora refugiadas no seu próprio país e a aproveitar a generosidade dos anfitriões do teatro Les Kurbas, em Lviv Source: Source: SBS / Ben Lewis
Os recentes ataques aéreos russos no oeste da Ucrânia significam que nenhum lugar do país é seguro neste momento. Todos estão reféns no seu próprio país, diz Ludmilla:
Nunca na minha vida pensei que seria uma refugiada no meu próprio país. É absolutamente terrível. Ninguém jamais poderia ter imaginado que algo assim aconteceria
Nos arredores de Lviv, um estádio de futebol de 35.000 lugares domina a paisagem.
Para muitos dos que chegam à cidade sem onde ficar, este estádio de futebol é a primeira paragem.
As autoridades locais estão a fornecer alimentos, roupas e a oferecer abrigo de curta duração, até que uma solução mais permanente possa ser encontrada.
A nossa cidade tem um slogan: 'Lviv está aberta para o mundo', mas Lviv está também aberta para toda a Ucrânia
Ivana Herus é quem está a organizar o projecto de apoio aos refugiados internos, no estádio de futebol nos arredores de Lviv. Source: SBS / Ben Lewis
Vamos dar tudo o que temos a essas pessoas, pelo tempo que for necessário
Stanyslav Kopitsa, a sua esposa e os seus três filhos pequenos acabaram de chegar ao estádio de futebol vindos da cidade de Kramatorsk.
Não é a primeira vez que ele tem que fugir das forças russas.
Em 2014, a família foi forçada a deixar a sua casa em Donetsk quando os separatistas, apoiados por Moscovo, assumiram o controle da região. "Pensámos que seria a última vez que teríamos que sair de casa e recomeçar as nossas vidas", afirma Kopitsa, que acrescenta que já não tem forças para explicar o que sente:
"Agora, devemos fazê-lo novamente [recomeçar tudo do zero]. Mal consigo encontrar palavras, apenas emoções".Entretanto, assim que encontrar acomodação para a sua esposa e filhos, Kopitsa regressará ao leste para ser voluntário nas forças armadas e lutar pelo seu país.
Stanyslav Kopitsa, a sua esposa e três filhos, uma família que acabou de chegar ao estádio de futebol vindos de Kramatorsk Source: Source: SBS / Ben Lewis
Vou ficar na Ucrânia até ao fim
, garante Kopitsa, confirmando a resiliência de milhares de homens e mulheres ucranianos neste momento da história do país.