À medida que os casos da COVID-19 aumentam novamente em muitas zonas da Austrália, as autoridades dizem que a variante BA.2 da Ómicron está a progredir no sentido de se tornar o tipo dominante do vírus.
Nova Gales do Sul relatou uma subida de 3.000 infeções diárias na quinta-feira (10 de março) num curto espaço de tempo de apenas 24 horas.
Especialistas dizem que o aumento se deve tanto à descompressão das medidas de saúde pública quanto à disseminação do BA.2, que aparentemente não é mais do que uma sub-variante da Ómicron.
No âmbito de uma audiência de estimativas orçamentares apresentada na quinta-feira passada, o ministro da Saúde de NSW, Brad Hazzard, afirmou que dados preliminares do estudo modelar levado a cabo pela Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW) sugeriram que o número de casos .“É muito preocupante para nós, que estamos a ver um aumento de casos diários” disse Brad Hazzard, que ainda acrescentou:
NSW Health Minister Brad Hazzard. Source: AAP
Embora a comunidade possa ter adormecido no vírus, o vírus não adormeceu na comunidade
Entretanto, aqui está o que sabemos sobre BA.2 até agora.
O que é BA.2?
A variante mais preocupante do Ómicron é atualmente a variante dominante do coronavírus - SARS-CoV-2, que está em circulação por todo o Mundo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que a Ómicron é composta por várias sub-linhagens, cada uma das quais está monitorizando atentamente. Dentro destas sub-linhagens, as mais comuns são as BA.1, BA.1.1, BA.2 e a BA.3.
"Aparentemente, BA.3 é bastante rara, então ainda não sabemos muito sobre ela. A BA.1 foi a variante original do Ómicron, que basicamente dominou o mundo", disse o epidemiologista Adrian Esterman, da University of South Australia.
"Mas agora estamos a conseguir saber mais sobre a BA.2, que é a sub-variante ou a ´irmã´ da BA.1."
O BA.2 foi detetada pela primeira vez nas Filipinas, em novembro de 2021 e, em fevereiro, já estava implementada em 57 países, disse a OMS na época.
O Professor Esterman afirmou ainda que o BA.2 representa neste momento cerca de um quarto dos casos Covid-19 na Austrália.
"Na Dinamarca, quase 100 por cento dos casos são agora BA.2. Na Austrália, a estatística está nos cerca de 25%. Mas há duas semanas, os números indicavam apenas 10%", acrescentou Esterman.
"Em duas semanas, provavelmente será 100 por cento", alerta o Professor da University of South Australia.
Na sua última declaração, a OMS disse que "a sub-linhagem BA.2 deve continuar a ser considerada uma variante de grande preocupação, e que deve permanecer classificada como Ómicron".
A variante Ómicron veio para ficar e a variante BA.2 está a provar isso globalmente Source: Getty Images
O que sabemos acerca da BA.2?
A sub-linhagem BA.2 tem uma sequência genética diferente da BA.1, incluindo algumas diferenças de aminoácidos na proteína de pico e noutras proteínas, diz a OMS.
"A primeira informação a reter é que é incrivelmente transmissível e substitui a BA.1", informou o Professor Esterman.
Este dado é corroborado pela OMS, que diz que os dados iniciais sugerem que a BA.2 parece fundamentalmente mais transmissível do que BA.1, que continua a ser a sub-linhagem Ómicron mais comumente relatada.
Mas o Professor Esterman disse que a BA.2 não parece ser mais grave do que a BA.1 no que às consequências da doença diz respeito.
"Estamos a ver taxas muito semelhantes de hospitalização e admissões em unidade de terapia intensiva (unidades de cuidados intensivos) para BA.1 e BA.2", disse Esterman.
"E sabemos que a BA.2 tem a mesma capacidade de escapar do sistema imunológico que a BA.1. Então, para todos os efeitos, podemos considerar que são variantes idênticas, sendo que a BA.2 é muito mais transmissível."
Esterman disse ainda que os casos em Victoria, embora estejam bastante estáveis neste momento, podem aumentar, enquanto os números na Austrália do Sul e na Tasmânia estão a aumentar.
A vice-diretora de para o gabinete da saúde, Dra Sonya Bennett, também já confirmou, na sexta-feira passada, que o BA.2 está a aumentar em todos os estados, o que era já "expectável".
"Vimos isso internacionalmente. Sabemos que a BA.2 é mais transmissível, e é por isso que está a ultrapassar as estatísticas da variante BA.1 da Ómicron", disse Bennett.
"Mas não parece resultar em quadros clínicos mais graves e a vacina parece ser tão eficaz contra a variante BA.2 Ómicron quanto para a BA.1."
ATAGI has updated its advice on COVID-19 vaccination. Source: AAP
As vacinas são eficazes?
O professor Esterman disse que a BA.2 é muito semelhante à BA.1 em todos os aspetos da imunidade – incluindo a proteção da vacina.
O que sabemos é que duas doses das vacinas existentes praticamente não oferecem proteção contra a infeção da Ómicron - seja BA.1 ou BA.2
Disse Esterman.
"Ter uma terceira dose fornece proteção contra o contágio. Agora estamos a ver que está a acontecer o mesmo em relação à terceira dose, em que estamos a obter uma diminuição da imunidade. E há dados de Israel que mostram que, mesmo após uma quarta dose, continuamos a verificar o declínio da imunidade".
Esterman considera, no entanto, que a população continua "bastante bem protegida" de doenças graves, o que explica o facto das hospitalizações não estarem a aumentar.
Mas a proteção contra infeção continua a ser uma preocupação grande para os grupos mais vulneráveis, idosos incluídos.
As autoridades estão a pedir aos australianos que tomem a sua dose de reforço – e que o façam antes do inverno, já que nesta altura do ano espera-se um aumento nos casos de COVID-19 e gripe.
No caso da Ómicron, duas doses não são tão eficazes quanto três doses de vacina
Garante Bennett que ainda vai mais longe: "As evidências científicas são muito claras - uma terceira dose da vacina COVID-19 é necessária para realmente aumentar a sua proteção contra efeitos/doenças graves e infeções por Ómicron”.
O ministro federal da Saúde, Greg Hunt, também já reforçou que uma injeção de reforço é importante para a proteção de uma pessoa "mesmo que essa pessoa já tenha contraído Ómicron".
“A pandemia ainda não acabou. Inevitavelmente, haverão novas variantes e, inevitavelmente também, haverá um determinado nível de vírus dentro da comunidade daqui para frente”, alertou Hunt, na passada sexta-feira.
Devemos preocupar-nos?
Embora as autoridades digam que o domínio crescente da BA.2 era já esperada, o professor Esterman acredita que o nível de preocupação e estado de alerta na Austrália deve ser "muito maior" do que o que se vê atualmente.
"As pessoas estão fartas do COVID-19 até a ponta dos cabelos - eu não as culpo. E de acordo com todos os nossos governos estaduais e territoriais, a pandemia acabou. O problema é que o vírus não sabe disso; ele ainda está cá, alegremente a infetar as pessoas”. Acredita Esterman, que ainda acrescenta:
Os números de novos casos importam. E devemos preocupar-nos com a BA.2
Ele disse ainda que os governos devem ser "mais cautelosos" ao remover as medidas de saúde pública em vigor.
"Não estou a dizer que não retirem algumas medidas. Mas estou a dizer que devemos ser mais cautelosos com as decisões que tomamos – e, certamente, estar dispostos a colocar essas medidas de volta rapidamente, se os números começarem a explodir outra vez".
Por enquanto, Esterman apela para que as pessoas dos grupos mais vulneráveis da comunidade (idosos incluídos) mantenham o uso da máscara facial e continuem com as precauções básicas e necessárias.
"Até podemos retirar certas medidas em vigor. Mas o que temos que fazer, mesmo, é proteger as pessoas vulneráveis", reforça o Professor em tom de alerta geral.